sábado, 13 de março de 2010

Luto


Foi com imensa surpresa que ontem recebi a notícia da morte do cartunista Glauco, criador de personagens ímpares, como Geraldão e o Casal Neuras, assassinado em sua chácara. Para quem foi adolescente no final dos anos 80 e início dos anos 90, como eu, Glauco formava a Santíssima Trindade, junto com Laerte (Striptiras) e Angeli (Wood & Stock, Os Skrotinhos e outros). Muito do que sei sobre contracultura vem da leitura de suas tiras, que rompiam com o moralismo tacanho próprio da classe média. Coincidentemente, no mesmo dia, o jornal O Globo publicou uma crônica de Arthur Dapieve sobre o filme "A Fita Branca". Nela, o cronista explica que o filme "denuncia a maldade em gestação a cada vez que um grupo ou um Estado tenta aprisionar o ser humano num modelo", concluindo: "é como se a hipertrofia de qualquer moralidade se tornasse uma doença autoimune". Nesse sentido, como em muitos outros, Glauco era um libertador.

Não se foram suas tiras, nem suas ideias, preservadas em seu vasto trabalho. Choro por aquilo que eu deixei de ler, por toda a contribuição que ainda poderia absorver, mesmo já não sendo aquele adolescente de antigamente e hoje ocupar um cargo público supostamente sério, de uma sisudez estereotipada. Só espero que os moralistas de plantão não creditem a tragédia à crença do cartunista no Santo Daime, pois o crime foi obra de uma pessoa obviamente perturbada, que em nada espelha a lucidez de Glauco.

Abraços.

Em tempo: espero que o talentoso cartunista Fábio Rex me perdoe pela publicação de seu desenho em homenagem a Glauco, pois estou claramente violando seus direitos autorais. Mas não podia dispensar uma imagem tão representativa.

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